terça-feira, 12 de setembro de 2017

Inclusão digital: uma nova maneira de enxergar o mundo

     Inclusão digital: uma nova maneira de enxergar o mundo

Por Bibiana Erthal
Polo – Vacaria
Data 12/09/2017
Fonte: ADERJ

Segundo dados do IBGE de 2015, no Brasil 6,2% da população tem algum tipo de deficiência, seja ela, física, auditiva, visual ou intelectual. Parece pouco, mas isso corresponde a cerca de 13 milhões de pessoas. O censo escolar de 2014 registrou 900 mil crianças especiais matriculadas em escolas, sendo que, 79% estão em classe comum.

Todos os professores concordam que é um desafio inserir estas crianças na sociedade, uma vez que tudo ao redor colabora para que elas sejam excluídas. Essa situação tem mudado aos poucos, mas muito se deve à tecnologia que auxilia e inclui estas crianças no mundo. Algumas escolas têm feito uso destas inovações tecnológicas, o que facilita a inserção destas crianças na sociedade cada vez mais informatizada.

A professora Vanda Lima Michelon, formada em Letras e especialista em deficiência visual, há doze anos, trabalha com cegos. Ela reside em Vacaria e leciona na mesma cidade na Escola Estadual de Ensino Fundamental Ione Campos dos Santos, no Rio Grande do Sul. A escola possui uma Sala de Recursos, onde estudam crianças com necessidades especiais. Vanda conta que já teve dois alunos cegos que se formaram no ensino médio, e um deles já está na faculdade. A escola que Vanda trabalha é referência na cidade, seja pelo trato especial com os alunos, seja pela metodologia aplicada a essas crianças.

Devido a presença de alunos cegos nesta escola, os computadores, que são enviados pelo governo, já têm instalado um programa chamado DOSVOX, desenvolvido pela universidade Federal do Rio de Janeiro. Ao instalar este programa em um computador, qualquer deficiente visual pode aprender com ele. Desde jogos a trabalhos mais complexos do ensino médio. Todos os computadores possuem uma marcação em alto relevo nas teclas F e J, o que facilita para que ele tenha senso de direção e espaço no computador. O DOSVOX é um sistema operacional que se comunica com o usuário através de síntese de voz, viabilizando o uso do computador comum para deficientes visuais, tornando-os autônomos em sua aprendizagem. Em comparação a outros sistemas similares, o DOSVOX leva vantagem, pois não apenas lê o que está escrito na tela, mas estabelece um diálogo amigável com o usuário.

Professora Vanda explica que uma criança cega, que ingressa na escola a partir da idade de alfabetização, poderá aprender ao mesmo tempo que uma criança sem necessidades especiais, mas ela ressalta que isso apenas será possível, caso a criança seja cega e sem deficiência intelectual. Em casos de múltiplas deficiências, como intelectual e motora ou visual a aprendizagem torna-se mais lenta, mas ainda com grandes possibilidades de se obter sucesso.

O ingresso na escola a partir dos seis anos é o ideal e foi o caso de Daniel, um aluno deficiente visual, que Vanda recorda com muito carinho, aluno este, que ela alfabetizou, ensinou braile, e hoje está no ensino superior.Muitos não têm a mesma oportunidade que Daniel teve, pois, as escolas têm carência de professores especializados, e de material didático específico. Uma máquina de escrever braile precisa ser importada, e o seu alto custo dificulta o acesso. Segundo Cristiano Gomes, gestor de projetos e parcerias da Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual (Laramara), existem 16 mil alunos cadastrados na fila para receber a máquina de braile. Além disso, explica que, as escolas que atendem pessoas com deficiência, podem se cadastrar no Ministério da Educação e solicitar esses equipamentos.

Para que o aluno tenha noções de espaço e sociedade, os professores acabam se reciclando e descobrindo formas interessantes de ensinar o mundo. Na Sala de Recursos, da Escola Ione Campos dos Santos, o educando encontra desde computadores com o sistema DOSVOX e máquinas de braile, até simples pastas com sementes coladas, para que possa sentir diferentes texturas. Ali é criado todo um sistema para que esta criança possa, de alguma forma, transformar o que é um pensamento abstrato em um pensamento concreto.

O projeto DOSVOX, é inteiramente brasileiro e começou a ser desenvolvido a partir de 1993, por alunos cegos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eles observaram que poucos cegos ingressam na faculdade, e muitos que ingressam acabam evadindo devido à dificuldade de estabelecer caminhos alternativos para a comunicação escrita com seus professores. Diante disto alunos e professores de informática se reuniram e construíram este sistema operacional. Que hoje é usado em todas as escolas que atendem deficientes visuais e além disto, está disponível de forma gratuita para qualquer pessoa instalar em seu computador.

Assim como a professora Vanda, muitos professores têm se especializado em educação especial. Segundo o censo em 2013, eram 3.691 docentes, e em 2014 esse número chegou a 97.459 docentes. Isso indica que muito tem se melhorado em relação a estas crianças, desde o número de profissionais até as inovações tecnológicas, mas como todos os professores concordam, ainda é pouco e o caminho para a igualdade e inclusão é longo.

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